
Escrever bem é uma habilidade essencial em qualquer profissão, especialmente nas áreas em que a linguagem exerce papel central, como no Direito. Produzir textos coesos, claros e persuasivos pode ser o diferencial entre uma argumentação eficiente e uma peça esquecida. Neste artigo, apresento sete ensinamentos simples, mas extremamente eficazes, que irão ajudá-lo a construir textos melhores — seja em petições, sentenças ou até mesmo em e-mails e relatórios.
1. Prefira as orações subordinadas às coordenadas
Uma dica que pode transformar a força argumentativa de um texto é optar pelas orações subordinadas em vez das coordenadas. Isso porque as subordinadas criam uma estrutura mais envolvente e persuasiva. Compare:
“O réu não deu causa à ação, mas foi condenado a pagar honorários.”
“Embora tenha sido condenado a pagar honorários, o réu não deu causa à ação.”
No segundo exemplo, o leitor é levado naturalmente até o fim da frase, sendo guiado com mais suavidade e clareza pela argumentação. As subordinadas têm essa capacidade de manter a atenção e tornar o texto mais fluido.
2. Faça transições inteligentes entre os parágrafos
Muitos textos perdem força por não saberem “costurar” bem suas ideias. Começar parágrafos sempre com expressões como “vale destacar”, “é importante mencionar”, “convém observar” torna a leitura cansativa e previsível. Uma boa prática é usar expressões referenciais, retomando o conteúdo do parágrafo anterior com palavras que mantêm a coesão.
Por exemplo, se o parágrafo anterior tratava de requisitos legais, o seguinte pode começar com “esses requisitos”, mesmo que o termo “requisitos” não tenha sido utilizado literalmente antes. Isso cria continuidade e elegância textual.
3. Abra parágrafos com frequência
Parágrafos longos e densos dificultam a leitura e intimidam o leitor. Textos jurídicos, especialmente, precisam ser visualmente agradáveis e organizados. A quebra frequente de parágrafos favorece a compreensão e demonstra cuidado com a estrutura argumentativa. Sempre que uma nova ideia surgir, considere iniciar um novo parágrafo.
4. Evite o uso de “sendo que”
A expressão “sendo que” é comum, mas transmite certo amadorismo. Em grande parte dos casos, ela pode ser substituída por um simples “e”, “pois” ou outra conjunção adequada. Veja:
“O autor apresentou os documentos, sendo que não houve contestação.”
Pode ser reescrito como:“O autor apresentou os documentos, e não houve contestação.”
O resultado é um texto mais direto e fluido.
5. Não use palavras que você não diria naturalmente
A linguagem jurídica não precisa ser rebuscada para ser respeitável. Pelo contrário: palavras como “outrossim”, “destarte”, “ex vi” afastam o leitor e tornam o texto menos acessível. Pergunte-se: eu falaria essa palavra numa conversa profissional comum? Se a resposta for não, então evite escrevê-la.
Escrever bem não é impressionar com palavras difíceis, mas comunicar ideias com clareza e precisão.
6. Brinque com a posição das conjunções
Conjunções não precisam ocupar sempre o início das frases. Posicionar termos como “entretanto”, “porém” ou “todavia” em outros pontos do período quebra a monotonia do texto e o torna mais elegante. Exemplos:
“Entretanto, o réu não apresentou contestação.”
“O réu, entretanto, não apresentou contestação.”
Ambas as construções são corretas, mas a segunda confere leveza e ritmo ao texto. Aprender a variar a estrutura é um sinal de domínio estilístico.
7. Varie a forma de iniciar os parágrafos
Começar parágrafos consecutivos com a mesma estrutura gramatical prejudica o ritmo da leitura. Por exemplo:
“A autora recebe auxílio-doença.”
“O réu almeja a improcedência do pedido.”
Ambos os períodos começam com sujeito + verbo. Essa repetição, embora gramaticalmente correta, empobrece o texto. Uma boa prática é diversificar as aberturas, alternando entre sujeito simples, orações subordinadas, expressões prepositivas ou adverbiais.
Conclusão
A qualidade da escrita está nos detalhes. Ao aplicar esses sete ensinamentos, você já estará vários passos à frente na construção de textos jurídicos (ou de qualquer outra natureza) mais eficazes, elegantes e respeitosos com o tempo e a inteligência do leitor.
Lembre-se: clareza, coesão e naturalidade são as maiores virtudes de um bom texto.
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