
Revisar uma peça jurídica vai muito além de uma leitura atenta: é uma prática indispensável para garantir clareza, coesão e profissionalismo no texto. E, apesar de parecer óbvio, muitos confundem ler com revisar. Vamos entender a diferença e como isso impacta diretamente a qualidade do trabalho jurídico.
Ler não é revisar
Ler é uma atitude passiva: você consome o texto, já familiarizado com ele, e tudo parece estar em ordem. Por outro lado, revisar é um processo ativo e crítico. É colocar-se no lugar de um terceiro, analisar o texto em busca de problemas de clareza, ritmo ou estrutura lógica. Revisar inclui práticas como:
- Ler em voz alta: Isso ajuda a perceber falhas no ritmo ou construções confusas.
- Fazer uma pausa: Após escrever, espere algumas horas ou um dia antes de revisar, para enxergar o texto com mais imparcialidade.
- Simular a visão de um leitor externo: Pense no juiz ou colega que vai interpretar sua peça. O texto faz sentido para quem não participou do seu raciocínio inicial?
O perigo das frases mal estruturadas
Alguns problemas de escrita só aparecem quando a peça é revisada criticamente. Veja este exemplo:
“Não obstante as razões do recurso, a confissão na contestação da ação de consignação em pagamento conexa e os documentos apresentados nestes autos, a sentença deve ser mantida no ponto.”
Aqui, a oração adverbial inicial (“Não obstante as razões do recurso”) cria uma expectativa equivocada no leitor, que inicialmente acredita que a oração principal seja “a confissão na contestação da ação…”. Esse desvio confunde e cansa quem lê.
A correção? Coloque a oração principal no início:
“A sentença deve ser mantida no ponto, não obstante as razões do recurso, a confissão na contestação da ação…”
A mudança parece sutil, mas a diferença na fluidez e clareza é significativa.
Outro exemplo prático
Antes da revisão:
“Se o réu tivesse cumprido a obrigação, o contrato que ele assinou há dois anos, certamente não estaria no polo passivo do processo.”
Após revisão:
“O réu certamente não estaria no polo passivo do processo se tivesse cumprido a obrigação, o contrato que ele assinou há dois anos.”
A inversão da estrutura coloca a informação mais relevante logo no início, melhorando o impacto e a leitura.
Revisar é um diferencial
Dedicar tempo à revisão é o que separa uma peça confusa de um texto persuasivo. Revisar não é um luxo, é um dever do bom advogado. Lembre-se: o juiz, ao analisar sua peça, tem inúmeras outras para ler. Cabe a você facilitar esse trabalho, entregando um texto direto, claro e sem ruídos.
Então, fica o lembrete: não basta ler, REVISE! E, claro, aplique essas técnicas em sua próxima peça. Experimente e compartilhe os resultados!
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