• No products in the cart.

Quando a Gramática Encontra a Hierarquia

“Clickbait.” Eis uma palavrinha que provoca calafrios em muitos usuários da internet. Trata-se de uma técnica usada no marketing digital, famosa por induzir cliques por meio de títulos apelativos e promessas que raramente se cumprem. Este artigo, confesso, nasce com um toque dessa técnica. Ele promete uma lição importante — e, ao contrário do clickbait tradicional, vai cumpri-la até o fim.

 

Um encontro no centro de Floripa

Tudo começou em uma caminhada pelo centro de Florianópolis. Em meio à correria da cidade, fui abordado por um seguidor:

“Professor Osvaci! Quanta honra! Seus posts são geniais. Acompanho todos. Mas vou confessar: tá difícil convencer a chefia…”

Ele se referia a uma postagem sobre o uso correto da expressão “se não, vejamos” (com o “se” separado do “não”, e não coladinho como em “senão”). Segundo ele, o procurador de justiça com quem trabalha era irredutível. Mesmo com base técnica sólida, não havia argumento que surtisse efeito.

Ali, percebi que aquela conversa exigia mais do que uma dica gramatical. Era hora de um conselho de convivência profissional.

 

Gramática tem limite? Tem: o bom senso.

Compartilhei com ele uma história pessoal. Certa vez, trabalhando com um desembargador, percebi que ele sempre omitia a vírgula antes da conjunção “pois”. Corrigi na primeira oportunidade, de forma respeitosa. A resposta veio imediata:

“Não está errado, não! O professor Fulano de Tal disse que não está!”

E eu, ainda verde, insisti:

“Desembargador, qualquer um sabe que antes de ‘pois’ vai vírgula.”

Resultado? Uma bronca inesquecível. Quase fui exonerado naquele dia. Mas aprendi uma lição que carrego até hoje: não vale a pena entrar em confronto por detalhes gramaticais com a chefia — especialmente quando o ambiente não é receptivo à correção.

 

A sua energia é limitada — use com sabedoria

Pense nas suas tarefas diárias: prazos, petições, clientes, recursos, jurisprudência, doutrina, audiência. Agora imagine somar a isso o fardo de tentar convencer seu superior de que “se não” deve ser separado, que “outrossim” soa artificial, ou que vírgula antes de “pois” é regra básica de pontuação.

Se for possível alertar de forma cordial e despretensiosa, ótimo. Mas se houver resistência, não insista. Não vale o estresse. Não vale a tensão. E, sobretudo, não vale o risco de desgastar uma relação profissional por um detalhe que, na maioria dos casos, não compromete o conteúdo jurídico.

 

Conclusão: mais harmonia, menos correção

A vida profissional já é repleta de desafios. Não adicione à sua rotina a missão inglória de ser o “corretor gramatical oficial” da equipe. Faça sua parte: escreva com clareza, com correção e elegância. Ofereça sugestões quando perceber abertura. Mas, se bater em uma porta fechada, siga em frente. Adapte-se, respeite hierarquias e economize sua energia para aquilo que realmente importa.

Em outras palavras: melhor um texto sem vírgula antes do “pois” do que uma crise institucional no gabinete.

 

Assista aos meus vídeos no Youtube

Me siga no Instagram

Compre o E-book Guia de Redação Jurídica

23 de abril de 2025
2021© Todos os Direitos Reservados | PROF. OSVACI JR. REDAÇÃO JURÍDICA.