
Requer-se digne-se vossa excelência de deferir o requerimento”, está correto?
Poderia começar este post dizendo que, como “dignar-se” significa “ter a bondade, a generosidade”.
É vazio do ponto de vista prático-semântico terminar uma petição requerendo que o juiz “se digne”, como se até o momento em que teve contato com o seu processo tivesse sido um monstro sem alma.
Poderia dizer, também, que empregar o “dignar-se” nessas hipóteses não é técnico, pois a função do juiz é dizer o direito do caso concreto.
De modo que quando ele julga uma causa em favor de quaisquer das partes não está sendo generoso, mas simplesmente cumprindo o seu papel.
Poderia, finalmente, dizer que já está na hora de começarmos a ser um pouco mais inteligentes e originais na redação das peças e não dizermos mais besteiróis transvestidos em frases feitas, como é essa do post.
Mas não.
Farei aqui apenas uma análise gramatical da estrutura⠀
De início, segundo Celso Pedro Luft, no seu Dicionário de Regência Verbal, o “dignar-se” exige, quando seguido de infinitivo, a preposição “de”:
“o autor requer que Vossa Excelência se digne DE julgar procedente o pedido”.
Escrever “se digne EM” ou “se digne A” está errado.
A preposição “de” pode ser omitida, ainda que, para o autor em tela, deve-se preferir a forma com ela:
“O autor requer que Vossa Excelência se digne Ø julgar procedente o pedido.” (correto)
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Em frases do tipo, a conjunção integrante “que” também pode ser omitida, pois a forma verbal do “dignar-se” (“digne-se”) já indica que está no subjuntivo.
Portanto, a construção acima poderia também ser redigida assim:
“O autor requer Ø Vossa Excelência digne-se julgar procedente o pedido.” (correto)
Mais construções corretas:
- ⠀“Requer-se Vossa Excelência digne-se deferir o presente requerimento”.
- ⠀“Requer-se que Vossa Excelência se digne de deferir o presente requerimento”.
- ⠀“Requer-se digne-se Vossa Excelência deferir o presente requerimento”.
- ⠀“Requer-se digne-se Vossa Excelência de deferir o presente requerimento”.
- ⠀“Requer-se que se digne Vossa Excelência de deferir o presente requerimento”.
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Quanto à pronúncia, muito cuidado: devemos dizer “dIgne-se”, com tonicidade no primeiro “i”, e não “diGUIne-se”.
Era isso.