
A análise sintática explicada à minha filha
Conheça nosso instagram
Pessoal, estou muito feliz. Por um ponto minha filha não tirou nota máxima na prova de língua portuguesa.
Estou feliz porque ela não conseguiu o ponto, e não porque quase tirou nota máxima. Já vão entender.
⠀
A questão que ela “errou” (e por isso fiquei feliz) veio com o seguinte enunciado:
⠀
⠀“No período ‘Arthur reprovou de ano, pois nunca fazia as tarefas’, as orações possuem relação de dependência?
Explique.”
⠀
De acordo com o gabarito oficial, era para minha filha responder que não.
A conjunção “pois” é típica coordenada explicativa, e, pela gramática ortodoxa, as orações coordenadas, ao contrário das subordinadas, são independentes.
A Alice, todavia, de forma muito sábia, respondeu que sim e por isso “errou” a questão.
Hoje, enquanto almoçávamos, ela me disse, inconformada:
⠀
⠀“Pai, a oração ‘pois nunca fazia as tarefas’ não é independente da anterior.
Quando a gente lê ela sozinha, fica faltando algo.
Uma coisa são as aditivas; na frase ‘o menino chorou e foi embora’, as orações são realmente independentes, mas acho que nem todas as coordenadas são independentes.”
E é isso mesmo.
Ao contrário do que ensina a atrasadíssima escola, nem todas as orações coordenadas são independentes, pelo menos não do ponto de vista semântico.
Vejam: que sentido tem a oração coordenada adversativa “mas não conseguiram”?
Obviamente falta outra oração aí para completar-lhe o sentido; “eles tentaram entrar, mas não conseguiram”: agora, sim, temos uma frase inteira.
Por aí vemos que nem todas as orações coordenadas são independentes da oração anterior.
As adversativas, as explicativas e as conclusivas não são independentes, NÃO!
Perceberam por que fiquei feliz? Filhota inteligente!
Não levou um ponto mas ganhou meu “respeito gramatical”.⠀
Pasmem, ela foi conversar com a professora para tentar convencê-la da sua resposta, mas a digníssima disse que as coordenadas são independentes e ponto final.
Minha vontade é de dizer a ela, à professora, que a escola é uma instituição contraproducente, obsoleta e grande culpada até pela formação daqueles advogados que não sabem sequer escrever um parágrafo decente.
Mas não. Pela minha filha, melhor mesmo é eu ficar calado.