No universo da língua portuguesa, algumas expressões podem parecer semelhantes, mas seu uso correto depende do contexto e da intenção do emissor. Entre elas, destacam-se as expressões “nenhum(a)” e “nem um(a)”, que, embora pareçam intercambiáveis, têm diferenças significativas de uso e significado. No meio jurídico, onde a precisão linguística é essencial, compreender essas diferenças pode fazer toda a diferença na redação de peças e documentos.
Neste artigo, vamos detalhar quando usar cada uma dessas expressões e dar exemplos práticos para ajudar a fixar o conteúdo.
“Nenhum(a)” — Pronome Indefinido
A palavra “nenhum(a)” é um pronome indefinido que equivale a “algum”, quando posposto ao substantivo. Ele é utilizado para negar a existência de algo de forma genérica, sem ênfase em uma quantidade específica. Geralmente, seu uso é associado a uma negativa absoluta, sem margem para exceções.
Exemplos práticos:
“O prazo transcorreu, e nenhum recurso foi interposto.”
Aqui, “nenhum” expressa que nenhum recurso, ou seja, recurso algum foi apresentado. A negativa é absoluta.
“O autor não apresentou nenhuma insurgência contra o deferimento da gratuidade da justiça.”
O uso de “nenhuma” indica que não houve insurgência alguma por parte do autor.
“Não há nenhuma dúvida de que o antigo proprietário é responsável solidário pelo pagamento do IPTU.”
“Nenhuma dúvida” reforça que não existe dúvida alguma quanto à responsabilidade solidária.
Dica:
Utilize “nenhum(a)” quando quiser negar a existência de algo sem qualquer ênfase em sua quantidade ou unicidade. A expressão é amplamente usada em documentos formais e jurídicos para afirmar categoricamente a ausência de determinado objeto, fato ou ação.
“Nem Um(a)” — Expressão Enfatizada
Já a expressão “nem um(a)” tem um caráter enfático. Utilizada para destacar que nem um único item ou pessoa foi incluído ou realizado. O “um” aqui funciona como numeral, reforçando a ideia de que nem mesmo um elemento entre muitos foi considerado. O uso de “nem um(a)” adiciona uma camada de ênfase, destacando o fato de que nem mesmo o menor número possível foi alcançado.
Exemplos práticos:
“A autora não juntou nem um documento à inicial.”
Nesse caso, “nem um” significa que nem um único documento foi anexado, enfatizando a total ausência de qualquer documento.
“Alega que em nem um mês deixou de pagar as parcelas.”
Aqui, a expressão “nem um mês” indica que nem mesmo um único mês houve atraso no pagamento das parcelas, reforçando a regularidade do ato.
“Na delegacia, a vítima não reconheceu nem uma das pessoas apontadas.”
O uso de “nem uma” dá ênfase ao fato de que, entre todas as pessoas apresentadas, nenhuma sequer foi reconhecida.
Dica:
Utilize “nem um(a)” quando quiser dar destaque à negação, especialmente quando se trata de enfatizar que nem mesmo o menor elemento possível esteve presente. Esse tipo de construção é comum quando se quer dar mais peso à afirmação negativa, como em um depoimento ou em uma defesa jurídica.
Casos de Ambiguidade
Há situações em que ambas as expressões, “nenhum(a)” e “nem um(a)”, podem ser usadas, dependendo da intenção de quem escreve. Nesses casos, a escolha dependerá da ênfase que se deseja dar à frase.
Exemplo:
“Nenhuma testemunha confirmou o alegado.”
Aqui, o autor está dizendo que testemunha alguma confirmou o fato. A negativa é simples e objetiva.
“Nem uma testemunha confirmou o alegado.”
Neste caso, o autor está destacando que nem mesmo uma única testemunha, dentre várias, confirmou o alegado, dando maior ênfase à falta de confirmação.
Dica:
Se o objetivo é simplesmente negar a existência de algo, use “nenhum(a)”. Se você quiser enfatizar a ausência completa, destacando a exclusão de até mesmo um elemento, opte por “nem um(a)”.
“Nem Um” Seguido de “Pouco”
Uma regra importante é que, quando a expressão “nem um” é seguida de “pouco”, ela deve ser escrita separadamente. Esse uso é comum para negar algo que sequer chega ao nível do mínimo razoável ou aceitável.
Exemplo:
“Não é nem um pouco razoável pretender que a pessoa se desfaça do imóvel que mora para arcar com as custas do processo.”
Aqui, a expressão “nem um pouco” enfatiza a total falta de razoabilidade da situação.
Conclusão
A diferença entre “nenhum(a)” e “nem um(a)” pode parecer sutil, mas é
fundamental para garantir clareza e precisão na comunicação, especialmente em textos formais e jurídicos. Ao utilizar corretamente essas expressões, você melhora a qualidade da sua redação e evita mal-entendidos.
Portanto, da próxima vez que estiver redigindo uma peça processual ou um documento formal, preste atenção ao contexto e à ênfase desejada. A escolha correta entre “nenhum(a)” e “nem um(a)” fará toda a diferença na forma como sua mensagem será recebida e compreendida.
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