
A técnica de escrita que trago hoje é exclusiva. Nunca a ensinei em cursos presenciais e você dificilmente a encontrará por aí — nem em blogs, nem em manuais, nem mesmo na imensidão da internet. Pode procurar.
O ponto de partida vem de uma leitura do professor russo Mikhail Bakhtin, no livro “Questões de estilística no ensino da língua”. A proposta: alcançar a concisão por meio da exclusão inteligente de palavras ou expressões que não fazem falta ao texto — e que muitas vezes só atrapalham.
O princípio
Você já me viu dizer que, para tornar o texto mais conciso, é preciso aplicar o seguinte exercício na revisão da peça:
Reduzir uma sílaba de uma palavra,
Reduzir uma palavra ou expressão de uma frase,
Eliminar uma frase de um parágrafo,
Cortar um parágrafo inteiro, se possível.
Hoje vamos nos deter em um desses pontos: a exclusão de palavras ou expressões de uma frase — mais especificamente, a exclusão de certos elementos de coesão.
Sim, há momentos em que conectores como “todavia”, “desse modo”, “portanto” e similares podem (e devem) ser suprimidos. Eles nem sempre contribuem para a fluidez textual e, muitas vezes, apenas ocupam espaço e interrompem a cadência da leitura.
Veja alguns exemplos com e sem o conector:
Com excesso:
“Uma vez que não foi sanado nítido erro material caracterizado pela adoção de premissas inexistentes, é impositiva a anulação do decisum recorrido a fim de que seja resguardada a coerência da prestação jurisdicional.
Todavia, na eventualidade de o Colegiado entender que não se faz necessário anular o julgado sob a perspectiva de que é possível sanar a falha acima apontada sem que isso implique supressão de instância, o agravante requer…”
Mais enxuto, sem prejuízo ao conteúdo:
“Uma vez que não foi sanado nítido erro material caracterizado pela adoção de premissas inexistentes, é impositiva a anulação do decisum recorrido a fim de que seja resguardada a coerência da prestação jurisdicional.
Na eventualidade de o Colegiado entender que não se faz necessário anular o julgado sob a perspectiva de que é possível sanar a falha acima apontada sem que isso implique supressão de instância, o agravante requer…”
Outro exemplo:
“Desse modo, inexistindo direito subjetivo à lotação na seção, o mandado de segurança deve ser denegado.”
↪ Fica melhor: “Inexistindo direito subjetivo à lotação na seção, o mandado de segurança deve ser denegado.”
Mais um:
“Portanto, não demonstrada a prática de ato ilícito pela parte demandada, não merecem amparo os pedidos formulados na inicial…”
↪ Sem o conector: “Não demonstrada a prática de ato ilícito pela parte demandada, não merecem amparo os pedidos formulados na inicial…”
E ainda:
“Todavia, sem razão a apelante.”
↪ Bem melhor: “Sem razão a apelante.”
Conclusão
A concisão jurídica não exige cortes radicais. Às vezes, tudo o que o texto precisa é da supressão de uma palavra que não agrega — e isso inclui muitos conectores que apenas duplicam uma relação lógica já evidente na frase. Escrever bem, afinal, não é escrever muito. É escrever o necessário, com clareza e ritmo.
Adote esse olhar crítico na revisão da sua próxima petição. A cada conector, pergunte: “Preciso mesmo disso aqui?”. Muitas vezes, a resposta será não.
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