
Hoje compartilho com vocês uma técnica argumentativa bastante eficaz, especialmente útil na advocacia: a nominalização. Quando bem empregada, ela pode suavizar a responsabilização do agente e favorecer teses defensivas — tudo sem deixar de ser gramaticalmente correta.
O que é nominalização?
Nominalização é o processo de transformar verbos ou adjetivos em substantivos abstratos. Exemplos comuns de nominalizações a partir de adjetivos incluem:
literal → literalidade
gratuito → gratuidade
formal → formalidade
rico → riqueza
Já a partir de verbos, temos:
doar → doação
cercear → cerceamento
planejar → planejamento
deferir → deferimento
Na prática jurídica, especialmente na redação de peças, essa técnica pode ser empregada com objetivo estratégico.
Nominalização como técnica de argumentação
Autores que estudam retórica e argumentação costumam advertir que o uso excessivo de nominalizações pode dificultar a fluidez da leitura. No entanto, em contextos específicos, como na advocacia criminal, a nominalização pode ser um recurso útil e até necessário.
A razão é simples: ao transformar o verbo em substantivo, você pode obscurecer a presença do agente da ação, ou seja, deslocar o foco da narrativa do autor da conduta para a conduta em si.
Veja este exemplo, redigido com uso direto de verbos:
“O representante do Ministério Público sustenta que o acusado furtou um aparelho celular de um transeunte e, após, adentrou no estabelecimento da vítima e roubou uma garrafa de uísque.”
Essa construção é bastante direta e funciona bem em documentos como relatórios de sentenças ou denúncias. No entanto, para a defesa, essa forma de redigir pode não ser a mais favorável, pois reforça a imagem do réu como autor das condutas.
Agora veja como a frase pode ser reformulada com uso da nominalização:
“O representante do Ministério Público sustenta que houve um furto de aparelho celular de um transeunte e, após, no estabelecimento da vítima, um roubo de uma garrafa de uísque.”
Ao optar pela nominalização — “houve um furto”, “um roubo ocorreu” —, o foco recai mais sobre o fato do que sobre a pessoa do acusado. Isso abre espaço, por exemplo, para a construção de uma tese de negativa de autoria, sem que haja uma negação explícita.
Use com moderação
Apesar das vantagens estratégicas, é importante não abusar da nominalização. Quando usada em excesso, essa técnica pode tornar o texto rebuscado, impessoal e mais difícil de acompanhar. O ideal é empregar nominalizações pontualmente, como ferramenta de retórica e estrutura argumentativa — especialmente quando o objetivo for tirar o foco da atuação do réu e centrar no acontecimento em si.
Conclusão
Dominar técnicas de argumentação como a nominalização é um diferencial importante para quem atua no meio jurídico, especialmente na advocacia. Saber quando e como suavizar a exposição do agente pode fazer diferença no êxito de uma tese. Use essa estratégia com critério, e verá como sua escrita jurídica se tornará ainda mais persuasiva e refinada.
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