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É correto usar “inferir” quando a conclusão é óbvia?

“Professor, posso usar o verbo ‘inferir’ quando a conclusão for evidente, como ao dizer que ‘infere-se da fl. 10 que o valor é de R$ 12.250,00’?”

A dúvida enviada por um seguidor (que preferiu não se identificar) é absolutamente válida — e excelente, por sinal.

 

O uso está correto?

Sim, o uso do verbo “inferir” nesse contexto está correto.
Embora muitas pessoas associem o termo apenas à ideia de suposição, ele tem um sentido mais amplo, como veremos a seguir.

 

Inferir é mais do que supor

É verdade que “inferir”, assim como “deduzir”, pode significar “chegar a uma conclusão por meio de suposições” (segundo o Dicionário Houaiss). Por exemplo:

Pelo modo suspeito como o homem caminhava, inferi que ele era o criminoso.

Aqui, a inferência tem um caráter subjetivo e até precipitado — uma conclusão tirada sem certeza absoluta, apenas com base em indícios.

 

Mas também significa… raciocinar!

O que muita gente esquece (ou não sabe) é que “inferir” deriva da palavra “inferência”, que também pode significar raciocínio.

Ou seja, inferir é tirar conclusões — simples, complexas, evidentes ou dedutivas. Inferir é pensar, interpretar, entender um dado com base em outro.

Enquanto você lê este texto, está inferindo coisas.
Pode estar pensando: “gosto dos posts do Prof. Osvaci Jr.”
Ou talvez: “opa, ele esqueceu de colocar um ‘s’ na palavra ‘posts’.”

Esses são exemplos de inferências, ainda que simples. São conclusões feitas com base em algo que se apresenta — e é exatamente disso que trata o verbo.

 

E quando a conclusão é evidente?

Voltando ao exemplo citado:

Infere-se da fl. 10 que o valor é de R$ 12.250,00.

Sim, o valor pode estar evidente. Mas, ao afirmar isso, você ainda está tirando uma conclusão com base em um dado específico — no caso, na folha 10 do processo. Portanto, o uso do verbo “inferir” continua apropriado.

Você também poderia usar “constatar”?

Constata-se da fl. 10 que o valor é de R$ 12.250,00.

Sim, claro. Seria igualmente correto.
Mas a escolha por “infere-se” não representa erro algum. Pelo contrário, mostra precisão técnica e domínio do idioma.

 

Conclusão

O verbo “inferir” não se limita a situações de dúvida, incerteza ou suposição. Ele também se aplica quando há conclusões óbvias ou evidentes. Inferir é pensar, é raciocinar, é interpretar. E, convenhamos, isso é o que fazemos o tempo todo — especialmente ao escrever peças jurídicas.

Portanto, use “inferir” sem medo. Só não vale presumir que ele só serve para suposições.

 

 

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8 de abril de 2025
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