
Conectores, como conjunções e locuções conjuntivas, não servem apenas para “ligar” partes do texto. Eles têm um papel fundamental na construção do sentido da argumentação. O uso inadequado dessas palavras compromete a clareza e a coerência da redação jurídica.
1. O Erro Comum: Trocar o Sentido do Conector
Muitos confundem conjunções com sentidos diferentes, como “conquanto” e “porquanto”:
Conquanto = concessão (equivalente a “embora”).
Porquanto = causa (equivalente a “porque”, “pois”).
Exemplo errado:
“Conquanto o autor apresentou provas, o pedido deve ser julgado procedente.”
(O sentido está confuso. O que o autor quer dizer? Que o pedido será julgado procedente apesar das provas?)
Correção:
“Porquanto o autor apresentou provas, o pedido deve ser julgado procedente.”
(Agora faz sentido: o pedido será julgado procedente porque o autor apresentou provas.)
2. O Mau Uso do “Portanto”
O “portanto” indica conclusão. Ele deve ser usado somente quando houver uma ideia conclusiva em relação ao que foi dito antes.
Exemplo errado:
“[transcrição de julgados]
Portanto, o autor teve seu veículo atingido pelo caminhão de propriedade do réu, de modo que seu pedido é de ser julgado procedente.”
(Aqui não há uma conclusão. Apenas se afirmou um fato.)
Correção:
“Portanto, conforme apontado por esses julgados, se o acidente acontece na via rotatória, a indenização deve ser paga pelo motorista que nela adentra abruptamente.”
(Neste caso, há uma conclusão baseada nos julgados mencionados.)
3. A Regra de Ouro: Relacione o Conector ao Sentido
Antes de usar qualquer conector, pergunte-se:
Estou concluindo algo? Use “portanto”, “logo”, “assim”.
Estou mostrando uma causa? Use “porque”, “pois”, “porquanto”.
Estou fazendo uma concessão? Use “embora”, “conquanto”, “ainda que”.
Estou adicionando uma informação? Use “além disso”, “também”, “bem como”.
Estou contrastando ideias? Use “todavia”, “entretanto”, “no entanto”.
Conclusão
O uso correto de conectores é mais do que uma questão de gramática; é uma questão de clareza e precisão argumentativa. Um conector mal utilizado pode distorcer o raciocínio jurídico e enfraquecer a persuasão da peça.
Não é apenas ligar por ligar, é ligar para fazer sentido.
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