
Uma das marcas da boa redação jurídica é a precisão no uso das palavras. E poucas dúvidas gramaticais causam tanta confusão quanto o uso das preposições “entre” e “dentre”.
Comecemos com um alerta importante:
O uso do “dentre” é raríssimo em textos jurídicos. Raro mesmo. E quando ele aparece, frequentemente está errado.
Por que isso acontece?
“Dentre” é uma preposição composta, formada da junção de “de” + “entre”. Portanto, só deve ser usada quando o verbo exige a preposição “de” e o complemento está entre elementos de um conjunto.
Verbos que exigem “de”:
- extrair
- tirar
- sair
- surgir
- retirar
Exemplos corretos:
- “Extraiu-se dentre os argumentos apresentados aquele que melhor se adequava à jurisprudência.”
- “O recurso foi tirado dentre as opções cabíveis previstas no CPC.”
Nesses casos, a lógica é clara: extraiu-se “de” algo, e esse algo está “entre” outros — logo, “dentre” é o termo certo.
E quando usar “entre”?
Em 99,99% das vezes! “Entre” é amplamente aceito e preferível na imensa maioria das construções.
Exemplos corretos:
- “O juiz indeferiu, entre outras medidas, o pedido liminar.”
- “Entre as alterações promovidas pela reforma processual, destaca-se a ampliação do contraditório.”
- “O princípio da não surpresa figura entre as normas fundamentais do novo CPC.”
Perceba que nestas frases nenhum verbo exige a preposição “de”. Logo, “dentre” não se aplica.
Por que isso importa?
Um erro de preposição, por mais sutil que pareça, pode comprometer a clareza e até a credibilidade da peça jurídica. Em petições, decisões, relatórios ou votos, cada palavra deve ser usada com rigor técnico e linguístico. Um simples “dentre” mal empregado revela desatenção ou desconhecimento — o tipo de detalhe que diferencia um texto mediano de um texto profissional.
]Na dúvida, opte por “entre”. É neutro, elegante, gramaticalmente correto na esmagadora maioria das situações e amplamente aceito pela jurisprudência e pela doutrina. Use o “dentre” apenas quando tiver certeza de que o verbo exige a preposição “de” — e que a ideia transmitida envolve elementos de um conjunto.
A escrita jurídica deve ser clara, direta e impecável. Dominar essas sutilezas mostra que você respeita não só a língua, mas também o seu leitor — juiz, promotor, parte ou colega.
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