
Usar o pretérito mais que perfeito em peças jurídicas está correto?
A pergunta não é bem se “está correto”, pois, a depender da frase, pode ser que esteja mesmo.
Acontece que, em 98% dos casos, não devemos usar o pretérito mais-que-perfeito nas nossas peças jurídicas.
Não sei se é para tentar demonstrar conhecimento da língua, mas muitos operadores jurídicos usam esse tempo verbal em frases nas quais caberia apenas o pretérito perfeito.
Conheça nosso instagram
Vamos começar do início sobre pretérito mais que perfeito
Pessoal, quando redigimos, digamos, um relatório de sentença, narramos os fatos mais importantes que ocorreram no processo.
Vejam: eu disse “ocorreram”, no pretérito perfeito.
Em 98% dos casos é esse o tempo a ser usado. Ponto.
Nada de escreverem “a ré interpusera agravo”, “o juiz recebera a inicial”, “a denúncia fora recebida”.
Em vez disso, escrevam: “a ré interpôs agravo”, “o juiz recebeu a inicial”, “a denúncia foi recebida”.
E não é apenas no relatório que o pretérito perfeito vai prevalecer sobre o mais-que-perfeito, mas em qualquer parte de nossas peças.
É claro que haverá casos (os 2% restantes) em que estará correto o uso do pretérito mais-que-perfeito.
Vou tentar explicar rapidamente.
Em geral, o mais-que-perfeito indica uma ação que ocorreu antes de outra passada.
A frase “quando retornei, a música parara” significa que a música já havia parado quando retornei.
Aliás, esta é uma excelente técnica para conferir se esse tempo verbal está empregado adequadamente:
se der para substituí-lo pela forma HAVIA/TINHA + PARTICÍPIO, o mais-que-perfeito estará correto.
Vejam a seguinte frase:
“O acusado afirmou que, por ocasião da chegada dos policiais, fugira da cena do crime”.
Se quem a escreveu quis dizer que o acusado HAVIA FUGIDO da cena do crime quando os policiais chegaram, o “fugira” está correto.
Já se a intenção foi dizer que no momento em que os policiais chegaram o acusado fugiu, o verbo deveria ser conjugado assim mesmo, “fugiu”, no pretérito perfeito.
Era esse o recado de hoje.
Apenas usem o pretérito mais-que-perfeito se realmente estiverem certos do seu cabimento, sobretudo porque, esqueci de dizer, esse tempo verbal atravanca a leitura.
Espero ter ajudado.