Como imprimir ritmo ao texto jurídico
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Vivo dizendo aqui que a qualidade do texto das peças de vocês vai depender, sobremaneira, do ritmo que impõem a ele.
Nunca, porém, de fato expliquei o que isso quer dizer; isto é, nunca demonstrei, na prática, o que significa imprimir ritmo ao texto. Bom, chegou a hora.
Não apenas direi o que é ritmo, como também ensinarei vocês a empregá-lo nas peças. Porque o assunto é da mais alta relevância, reservei dois posts só para ele; amanhã farei o outro.
Acompanhem que vão gostar!
Ao contrário do que se possa imaginar, ritmo não tem a ver com uniformidade ou repetição, mas com diversidade: diversidade de sons, de tamanho das frases e de arranjo das palavras.
Como vocês verão abaixo, a uniformidade, a repetição, deixa o texto enfadonho, entediante; por outro lado, a diversidade, o ritmo, faz com que o texto fique gostoso de ser lido.
Quando nossa escrita possui ritmo, o leitor se prende a ela, do início ao fim.
Vocês podem começar a estabelecer ritmo no texto evitando nele sequências de palavras polissílabas, pois isso reduz a velocidade da leitura, deixando-a cansativa.
Reparem:
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“O recorrente argumenta que a probabilidade do provimento do recurso se consubstanciaria na indevida exposição de informações sigilosas da sociedade empresarial”.
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Notaram? A repetição de polissílabas torna o texto maçante, sem ritmo.
Outro fator que provoca ausência de ritmo é a repetição de sons (ento/ente/ão/ado/ada etc.) no final de palavras próximas umas das outras.
Percebam como fica ruim:
“Esta Corte tem o entendimento de que não constitui impedimento ao deferimento da tutela o perigo de irreversibilidade da medida”.
“Não pode haver a transformação da denunciação em instrumento de denegação de justiça àquele alheio à relação da garantia”.
“Intimada, a agravada requereu a manutenção da decisão impugnada”.
Uma dica para impor ritmo ao texto é começar períodos com o predicado quando ele for muito menor que o sujeito.
Vejam:
“Isso porque a sentença prolatada nos autos da mencionada ação declaratória de inexistência de consolidação da propriedade com pedido de tutela antecipada é nula”.
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Observem como fica melhor assim, com o predicado na frente:
“Isso porque é nula a sentença prolatada nos autos da mencionada ação declaratória de inexistência de consolidação da propriedade com pedido de tutela antecipada”.
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Outra dica, decorrente dessa, é deixar os maiores trechos das frases para o final.
Mais ritmo ao texto
Notem como o segundo período, ao observar isso, apresenta muito mais ritmo do que o primeiro:
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“Defendeu a desnecessidade de observância plena do contraditório no procedimento levado a termo no Tribunal de Contas do Estado e a validade do ato administrativo”.
“Defendeu a validade do ato administrativo e a desnecessidade de observância plena do contraditório no procedimento levado a termo no Tribunal de Contas do Estado”.
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Finalmente, uma excelente técnica para impor ritmo ao texto das peças é abrir parágrafos com expressões do tipo “Pois bem” seguidas de ponto, ou com frases como “É evidente que a pretensão do autor não merece prosperar”/“O recurso, adianta-se, deve ser provido” (essas frases proporcionam ainda mais ritmo quando em parágrafo único).
Isso porque expressões e frases do gênero acarretam quebra no padrão linear da escrita e, consequentemente, dão ritmo ao texto.
Mas, ó, não abusem dessa técnica; utilizem-na somente quando sentirem que o texto da peça está meio engessado, seco, precisando de um respiro, se é que vocês me entendem.
Problemas relacionados a ritmo são facilmente constatados quando lemos nossas peças em voz alta.
Adquiram, portanto, esse hábito! Falando nisso, percebam que na oração anterior eu trouxe o “portanto” entre vírgulas.
Fiz isso propositalmente, pois conjunções como “portanto”, “todavia”, “porém” e “entretanto” têm esse poder de, quando entre vírgulas, também conferir ritmo ao texto.
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Era isso, pessoal. Não falei que iriam gostar?
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